Se você gosta de esportes, acredita que possui conhecimento e domínio da técnica jornalística, mesmo sem ser um profissional universitário, e deseja aprender a manter um meio de comunicação e publicar conteúdo de qualidade, então é muito provável que você já tenha os ingredientes essenciais para iniciar um empreendimento no campo do jornalismo esportivo.
No entanto, tornar-se um profissional independente com seu próprio meio de comunicação digital exige paixão, amor e dedicação, assim como planejamento e habilidades financeiras. Essa conclusão se alinha com a visão do professor Andrew Billings, da Universidade do Alabama, que afirma que “a chave para o sucesso está em diferenciar-se“. Por outro lado, para Doug Smith, diretor executivo da Table Stakes e consultor da World Association of Newspapers and News Publisher, é fundamental produzir um jornalismo de serviço de alta qualidade que crie hábitos e experiências em públicos específicos.
A abordagem de Smith é particularmente adequada para o jornalismo esportivo online. Imagine a conquista de ser a primeira escolha das pessoas para consultar as peças jornalísticas do seu empreendimento em seus celulares ou computadores, assim como costumavam fazer ao ler o jornal impresso pela manhã, ou como é a atual rotina de verificar constantemente e-mails e notificações de redes sociais!
Essas diretrizes e outras que mencionaremos posteriormente formam a estratégia para enfrentar os principais desafios do jornalismo como negócio e serviço público: a saturação do mercado, a monetização sustentável e o equilíbrio entre as necessidades comerciais e a independência editorial, de acordo com Christopher Anderson, professor da Universidade de Leeds. Para cumprir essa última premissa, é útil implementar as diretrizes éticas do jornalismo esportivo propostas pelos professores espanhóis Xavi Ramón e José Luis Rojas.
Na reconciliação entre serviço público e negócios, é fundamental considerar orientações de especialistas para garantir a sustentabilidade do projeto e, assim, manter a motivação do empreendedor constante. O professor José Alberto García Avilés e seus colegas afirmam que a inovação pode ser essencial, desde que ela ocorra nos aspectos de conteúdo, marketing, distribuição e organização.
No que diz respeito ao conteúdo, enfatiza-se a importância de tornar as notícias de fácil leitura, adaptar sua apresentação ao design de dispositivos móveis e incorporar a gamificação para promover a interação do usuário. Pode-se também acrescentar que o conteúdo no jornalismo esportivo deve adotar uma perspectiva única, uma abordagem atraente para que o leitor se afaste das mídias estritamente ligadas ao entretenimento esportivo ou à apresentação de resultados. Competir com elas nesse aspecto seria desperdiçar esforços e energia, uma vez que elas dispõem de recursos financeiros, tecnológicos e humanos superiores para se manterem atualizadas sobre eventos competitivos imediatamente.
Pensar que o futebol não é o único esporte de interesse, mas que, por meio de recursos jornalísticos, tecnológicos e interativos, outros esportes podem ser difundidos, nos quais existem muitos praticantes e campeões na região ou localidade onde o cibermeio opera, também contribui para a diferenciação. Outra alternativa é a aposta no hiperlocal, pois ela oferece a possibilidade de monetização com o apoio do comércio local e dos residentes locais. É claro que, quando o meio se estabeleceu com sucesso, uma estratégia eficaz pode ser a de publicar artigos sobre temas universais em diferentes idiomas de forma acadêmica e profissional. A propósito, aprender outros idiomas com proficiência, como o inglês, já é um requisito essencial para os jornalistas esportivos.
Realizar análises críticas do esporte e seu ambiente, com a exposição de argumentos contrastantes para defender a atividade competitiva de grupos e pessoas que desejam lucrar com ela por meio de métodos ilegais ou antiéticos, é uma postura valorizada pelos usuários, assim como a denúncia de ações contrárias ao fair play.
Na distribuição, José Alberto García Avilés e seus colegas pedem que esta seja centrada no usuário, para o que é necessário conhecer os padrões de navegação do consumidor, a fim de personalizar mensagens, recomendar artigos e automatizar alertas e notificações por meio de bots. Geralmente, as redes sociais desempenham essa função complementar ao site principal, no entanto, elas devem ser criadas se realmente se alinharem com o objetivo do novo cibermeio.
A distribuição pode ser bem-sucedida quando estabelecemos parcerias com empresas e instituições que facilitam a replicação das peças jornalísticas esportivas, compartilhando-as e, dessa forma, gerando tráfego. Integrar as estatísticas do Google Analytics ao feed da página ajuda a ter uma ideia de quão populares os conteúdos se tornaram entre as audiências.
Na organização, conforme Garcia Avilés e seus colegas continuam, salas de redação e fluxos de trabalho que estimulem a inovação devem ser criadas. Aqui, é relevante planejar as atividades por meio de nossos próprios métodos ou dos fornecidos por aplicativos como Trello, Asana e Notion, entre outros. Também é importante programar alertas e notificações de outros veículos esportivos, inclusive de revistas acadêmicas que possam oferecer artigos, tópicos e abordagens interessantes sobre o esporte, e cujos autores possam estar dispostos a participar de entrevistas online.
No campo da comercialização, as ideias mais inovadoras surgem da consolidação de um relacionamento harmonioso com os usuários e anunciantes, como enfatiza García Avilés. Isso implica ouvi-los, entender suas necessidades e criar conteúdo que esteja alinhado com seus interesses, sem perder a independência e a iniciativa com conteúdo original. O professor Miguel Carvajal da Universidade “Miguel Hernández” identifica três setores a partir dos quais podem ser configurados modelos de negócios adequados para cada empreendimento: (1) receita proveniente de usuários/leitores; (2) publicidade ou equivalentes; e (3) outros serviços ou negócios secundários. Uma expansão dessas seções é apresentada no infográfico a seguir.
Certamente, em relação às assinaturas, os pesquisadores Bartosz Wilczek, Ina Schulte-uentrop e Neil Thurman concluem, em um estudo realizado no Reino Unido, que um argumento persuasivo para o público optar por esse modelo de pagamento é o apelo à normatividade e à transparência de preços. Informar os usuários de que suas assinaturas apoiam o jornalismo independente, inclusivo e de controle de poder também é eficaz. Esse critério, aliado à explicação de que um modelo de assinatura está sendo implementado devido à situação financeira crítica da indústria de notícias, pode ser particularmente convincente.
Nos próximos dois artigos, analisaremos propostas de dois empreendimentos de jornalismo esportivo bem-sucedidos: Deporadictos (Espanha) e El Míster (México).